Bolsa ganha força, mas patamar ‘mágico’ da Selic para saída da renda fixa ainda está distante

Bolsa ganha força, mas patamar ‘mágico’ da Selic para saída da renda fixa ainda está distante

26 de agosto de 2024 0 Por redacao

Apesar da alta volatilidade dos ativos globais, com o mercado reativo a qualquer dado de atividade nos Estados Unidos, a Bolsa de Valores brasileira vem ganhando força e registrou três recordes seguidos na semana passada, em um movimento sustentado, principalmente, por estrangeiros, segundo analistas.

Ainda assim, a migração da renda fixa para o mercado acionário não deve acontecer tão cedo.

O Itaú BBA fez um levantamento com 130 investidores institucionais nacionais do chamado “by side”, ou seja, que atuam no lado comprador dos ativos para seus clientes, e perguntou qual seria o “número mágico” da taxa básica de juros, a Selic, que justificaria uma saída da renda fixa em direção à Bolsa.

A resposta geral foi 9%. Atualmente, a taxa está em 10,50% ao ano, e já há expectativas de elevação no próximo mês.

A postura mais dura adotada pelo Banco Central do Brasil, que colocou a possibilidade de volta do ciclo de alta dos juros na mesa, reforça um otimismo com a Bolsa brasileira, porque mostra compromisso com a meta de inflação e abre espaço para uma queda maior da Selic no próximo ano.

Segundo Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, mais do que os juros de curto prazo, o que mais impacta no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do país, é a precificação do mercado para a curva mais longa, principalmente as taxas dos contratos que vencem em dez anos.

Por isso, uma alta da Selic neste ano, projeção que vem crescendo entre bancos e casas de análise segundo levantamento da Folha, dá um fôlego para a Bolsa. Afinal, o movimento traz credibilidade em relação à política monetária e à trajetória da inflação e dos juros no futuro, atraindo investidores com apetite ao risco.

Esse cenário, somado à queda de juros nos EUA aguardada pelo mercado, reforça ainda mais a atratividade de um país emergente como o Brasil, já que, aí sim, os investidores estrangeiros tendem a sair da renda fixa americana, que agora deve pagar um prêmio menor, e migrar um pouco mais para ativos de maior risco, que trarão um retorno mais interessante.

Essa análise pode ser traduzida em números. Entre julho e agosto, houve entrada de cerca de R$ 11 bilhões de aportes estrangeiros no mercado de ações do Brasil, sem contar o que a privatização da Sabesp trouxe para a Bolsa nesse período.

O movimento se configura como uma reversão de fluxo, após a saída de quase R$ 40 bilhões no primeiro semestre, segundo Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Mas, por outro lado, se de fato o BC do Brasil subir juros neste ano, os investidores brasileiros vão continuar a encontrar boas oportunidades em títulos de renda fixa domésticos, o que deve dificultar por ora uma migração para o mercado de ações.

“O investidor local vai perder o senso de urgência de comprar a Bolsa se os juros curtos subirem. Então, todo aquele financial deepening [aprofundamento financeiro] de entrar X bilhões em Bolsa porque a pessoa vai tirar da renda fixa, eu acho que isso não deve acontecer de maneira relevante”, diz Daniel Gewehr.

Folha Mercado

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O economista Yuri Alves, da Guide Investimentos, chama atenção para o fato de as taxas de remuneração dos títulos de renda fixa se manterem ainda muito altas, mesmo após um forte movimento de elevação visto desde o ano passado no Brasil.

“Muita gente do mercado diz que IPCA + 6% [prêmio pago por alguns títulos do Tesouro indexados à inflação] é imbatível. Mas ainda vejo um potencial prêmio na curva de juros, tanto na ponta longa como na ponta curta”, diz Alves.

Segundo o economista, os juros longos devem se manter mais altos devido à percepção de risco que ainda paira em relação às contas públicas. Quando isso acontece, o mercado cobra taxas mais altas para compensar o risco de tomar dívida do governo.

Em junho, a Bolsa brasileira acumulou no ano o pior desempenho entre as principais economias do mundo após o governo não demonstrar comprometimento com as metas fiscais que haviam sido estabelecidas para o próximo ano.

Agora, porém, muitos analistas estão enxergando uma melhora após esforços da equipe econômica em demonstrar compromisso fiscal, não apenas ao incrementar a arrecadação, mas também ao apresentar medidas de corte de gastos.

“Vejo um certo ponto de reversão para o risco fiscal. Na quinta-feira [22], por exemplo, a gente viu os dados de arrecadação fortes. Isso tende a amenizar o tamanho do rombo fiscal e fica mais provável que o governo cumpra a meta fiscal deste ano”, diz Rafael Vitória, economista-chefe do banco Inter.

“O governo agora elabora o Orçamento de 2025. É um Orçamento mais crível, com algum controle de gastos, o que também pode reduzir esse risco fiscal”, diz.

A economista vê espaço para uma valorização do real ante o dólar neste ano. Além de um cenário fiscal melhor, ela cita o ambiente externo mais positivo em relação a uma queda dos juros americanos e a balança comercial brasileira que se mostra robusta.

Apesar dos temores no exterior de uma recessão nos EUA, o que tem levado a uma alta volatilidade nos mercados, Rafaela Vitória diz que o Inter não tem expectativa de que isso ocorra.

No ambiente doméstico, a economista afirma que o desempenho da economia brasileira, com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o esperado no início do ano pelos analistas, tende a se refletir nos resultados financeiros das empresas do país, o que reforça o movimento de alta da Bolsa.

“A economia brasileira está bastante robusta. Entre os dados de atividade que a gente monitora, o que mais chama atenção positivamente é o mercado de trabalho, que está bastante dinâmico. O crescimento do emprego e renda acima do esperado tende a manter o consumo em alta para o segundo semestre, o que de novo se reflete em um desempenho melhor para as empresas.”